A eq. (1) descreve a evolução temporal do sistema composto gato + átomo. O átomo está inicialmente excitado, o que significa que um de seus elétrons absorveu alguma energia e pulou para uma camada atômica mais externa. Como a probabilidade de encontrar o átomo ainda excitado diminui, o estado quântico do gato-átomo evolui para um estado emaranhado (lado direito da eq. (1)). Nessa fase, o átomo e o gato estão fortemente correlacionados. Por exemplo, se o átomo é encontrado excitado, nós sabemos com certeza que, se nós olharmos para o gato, nós o encontraremos 'vivo'. Da mesma forma, se o átomo for encontrado decaído, a probabilidade de encontrar o gato 'morto' é 1. Essas correlações perfeitas não têm nada de extravagante. Mas elas são apenas um pequeno subconjunto das correlações implicadas pelo estado (1). Nós temos até agora considerado somente um observável do átomo, no caso sua energia interna E, cujos autovetores são e .
Vamos considerar agora um observável diferente, Q, cujos autovalores sejam os estados:
O significado físico de tal observável pode ser compreendido no quadro do eletromagnetismo. Entretanto, para os nosso objetivos, é suficiente identificar os possíveis resultados de Q, ' ←' e '→', com os resultados mutuamente exclusivos de um protocolo experimental que pode consistentemente ser chamado de 'uma medição de Q'. (Uma analogia útil é fornecida pelos observáveis de spin : a relação existente entre E e Q, bem como a relação existente entre seus respectivos autovetores, é similar aquela existente entre Sz e Sx, e entre seus respectivos autovetores.) Suponha que queiramos reescrever o estado (1) em termos dos autovetores de Q. Em analogia com o caso de dois spins emaranhados, nós obtemos a seguinte expressão:
Após desenvolver essas manipulações formais, nós podemos agora olhar para as consequências do paradoxo de Schrödinger. Pois, o que acontece com o gato se nós medirmos Q no átomo e encontrarmos, por exemplo, '→'? É consequência da eq. (2) e das propriedades dos estados emaranhados que, neste caso, os resultados de qualquer medição posterior realizada somente o estado do gato serão aqueles previstos pelo seguinte vetor de estado:
Este estado quântico implica a existência de um gato que está simultaneamente morto e vivo? De modo algum. Se o estado biológico do gato for testado, de acordo com o estado (3) o gato será encontrado vivo metade das vezes e morto na outra metade. Entretanto, o estado (3) também prevê efeitos de interferência se o observável apropriado for medido. Se esses efeitos de interferência fossem normalmente observados, como eles são com átomos (ver dualidade onda-partícula), o próprio conceito de gato em si seria bastante inadequado para lidar com a experiência cotidiana. Tão inadequado quanto o conceito clássico de partícula quando lidamos com fenômenos microscópicos (ver incerteza e dualidade onda-partícula).
Para explicar porque interferência felina não é observada na experiência cotidiana, deve-se levar em consideração o fato de que gatos reais, como a maioria dos sistemas macroscópicos, não estão isolados dos seus ambientes. Por exemplo, os átomos que compões o gato espontaneamente emitem fótons que carregam informação sobre a fonte emissora. Esse e outros processos similares resultam em correlações entre o gato e o meio-ambiente que são descritas por um estado emaranhado. Ao se generalizar o argumento descrito na discussão do experimento de dupla-fenda, é possível ver que, sob essas condições, a mecânica quântica prevê corretamente que a interferência não será observada.